Geraldo da Silva Vieira também é investigado por não pagar os próprios funcionários que ele contratava para trabalhar no escritório de contabilidade dele. 'Ele não tem escrúpulo', diz vítima. Advogado que se passava por vice-cônsul da Rússia em Minas Gerais é investigado As polícias Federal e Civil investigam um advogado que se passava por vice-cônsul da Rússia, em Minas Gerais. Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Geraldo da Silva Vieira usava o prestígio do suposto cargo para aplicar golpes e teria até aberto uma conta em nome do consulado, movimentando milhões de reais. Ele também é suspeito de estelionato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Na rede social, o currículo extenso e cheio de especializações funcionava como um atrativo. O advogado se apresenta como um empresário de sucesso. Na página profissional, descreve experiências fora do país e ostenta também um título de vice-cônsul da Rússia, em Belo Horizonte. “O currículo do Geraldo até me intimidou, pra ser sincera. Quando eu vi eu falei: 'Nossa, eu acho que não tenho condição de trabalhar com esse advogado'. E ele me mandou carteira de vice- cônsul da Rússia, então me pareceu, assim, uma pessoa muito influente também", disse uma vítima que não quis se identificar. Segundo a Polícia Federal, tudo era uma farsa. O advogado pagou a quantia de 30 mil euros a Vladimir Kotilevsky – que era o cônsul na época - para ser nomeado vice-cônsul honorário da Rússia, em BH. A denúncia do MPF diz que Kotilevsky vendeu nomeações de agentes diplomáticos a indivíduos sem qualquer vínculo com a federação russa. Carolina Bernardes Machado, cônsul da Rússia em Minas Gerais há cinco anos, explicou que o governo russo foi surpreendido pelo esquema fraudulento. “Quando a embaixada tomou conhecimento disso e o Ministério de Relações Exteriores da Rússia também, imediatamente promoveu o desligamento dele. Então, assim, ele foi desligado, foi exonerado, e isso foi comunicado ao Itamaraty. É um prejuízo muito grande para a imagem, para as questões morais do que significam uma reação diplomática de um país”, contou ela. Kotilevsky deixou o Brasil, mas Geraldo Vieira continuou se apresentando como um representante diplomático. Segundo as investigações, o advogado usava o título para atrair clientes, dizia que intermediava os interesses de empresários russos interessados em investir no Brasil e, para receber os investimentos na forma de empréstimos a baixíssimos juros, teriam que transformar a natureza da pessoa jurídica para sociedade anônima. Para providenciar toda tramitação, Geraldo oferecia os serviços do seu escritório de contabilidade. Ele responde por crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O processo corre em sigilo desde 2020. Em um e-mail, que faz parte do processo, Geraldo Vieira diz "estamos trazendo do Eurobank 200 milhões de euros. Caso precise, podemos fazer uma reorganização societária de sua empresa e lançarmos as debentures. Podemos te arrumar algo em torno de 5 milhões. A taxa é de 5%”. Em outro e-mail, o advogado negocia a compra de um apartamento. “Faço o saque de 600 mil em dinheiro na conta do consulado. Nosso dinheiro está em euro. Para eu fazer o pagamento dos outros 2 milhões e 800 mil vou fazer um TED do consulado", disse ele no texto. Os golpes Enquanto isso, o suspeito segue fazendo novas vítimas, segundo a polícia. Um empresário recebeu um calote de R$ 65 mil por um serviço de contabilidade. “Ele se apresentou como um adido comercial do Consulado Russo. Aí ele patrocina almoço, patrocina jantar, faz alguns encontros. Ele não tem escrúpulo”, disse a vítima, sem identificar-se. O advogado também está sendo investigado por aplicar golpes nos próprios funcionários. Segundo a polícia, ele contratava pessoal até de outros estados, mas não pagava os profissionais. A delegacia de Lagoa Santa recebeu denúncias de pelo menos 20 pessoas, entre testemunhas e vítimas, e o delegado acredita que o número pode ser ainda maior. Somente na Justiça trabalhista, são pelo menos 60 denúncias contra o advogado. “Como uma pessoa que deve tanto, tem um passivo de dívida tão alto, está vivendo como se nada acontecesse”, questionou. O advogado Geraldo da Silva Vieira Reprodução/TV Globo Nunca foi preso O delegado Flávio Teymeny disse que as fraudes eram bem articuladas. “Ele nunca foi preso. Ele utiliza desse conhecimento, como advogado, para poder de uma certa forma furtar, ali das leis criminais. Não só criminais, mas também da legislação brasileira em geral”. Uma empresária carioca, que também prefere não se identificar, foi contratada para selecionar uma equipe para o escritório de Geraldo Vieira. “O Geraldo, ele é uma pessoa que tem um encantamento, ele traz segurança para a pessoa. Ele passa uma confiança que você não tem como desconfiar, não tem como, tanto que ele nunca me bloqueou em nada. Ele continuava me dando atenção, eu recebi um golpe de R$ 33 mil". A reportagem não conseguiu contato com o ex-cônsul Vladimir Kotilevsky. Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil informou que Geraldo da Silva Vieira tem inscrição regular no cadastro nacional da advocacia, mas, seguindo o código de ética da profissão e disciplina, não pode apresentar informações sobre a existência de processos ético-disciplinares contra advogados. A reportagem também não conseguiu contato com o ele. Vídeos mais assistidos do g1 Minas A reportagem não conseguiu contato com o ex-cônsul Vladimir Kotilévsk. Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil informou que Geraldo Vieira tem inscrição regular no cadastro nacional da advocacia, mas, seguindo o código de ética da profissão e disciplina, não pode apresentar informações sobre a existência de processos ético-disciplinares contra advogados. A reportagem também não conseguiu contato com o ele.

Publicada por: RBSYS