Governador federal anuncia que está elaborando um plano para atendimento de saúde mental no Rio Grande do Sul. Momento dramático como o do Rio Grande do Sul pede cuidado com a saúde mental
"A senhora procurou atendimento psicológico. procurei. Por quê? Porque, nesse momento, eu acho que o psicológico da gente fica muito abalado. Até aqui eu consegui chegar. E a volta? Eu sou aposentada com um salário mínimo. Um salário mínimo. Eu tenho a minha casinha, que eu não pago nada por ela, aluguel, mas eu pago água, pago luz. Eu tenho a minha medicação que eu, todo mês, eu tenho que comprar. Tem momento que você desaba. E esse momento foi muito importante pra mim. O momento que eu me senti triste, angustiada, sem saída, com medo, querendo chorar, botar pra fora aquela raiva, aquele sentimento que nem eu sei explicar, aí foi onde eu tive ajuda", conta aposentada Irenildes Alves Pinto
Esse apoio importante veio de profissionais de saúde que estão atuando no abrigo da Universidade Unisinos, em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre.
"Então a gente vai passando nos ginásios e vai perguntando pras famílias se tem alguma necessidade, né, se gostariam de conversar, né, se tem alguma demanda pra atendimento psicológico, né. Em caso de interesse em conversar, a gente tenta procurar um lugar mais, assim, privado, mais privativo pra poder conversar e a gente tem uma sala de atendimento individual.
Autoestima é muito importante pra saúde mental, né, principalmente num momento de muita fragilidade, fragilidade emocional, de vulnerabilidade. Então aquilo que está dentro do nosso alcance a gente tenta proporcionar pra eles, né, mas a gente tem também se eles têm dormido bem, como é que tem sido as noites. Muitos têm relatado que têm pesadelos", diz voluntária Débora Becker.
"Ansiedade eu acho que é sintoma que mais aparece, né. E aí, a gente tem outros casos de sintomas mais graves, né, pessoas que acabam se desorganizando, perdendo um pouco a noção do tempo e do espaço, né, e ficam bem desorganizadas e fazem sintomas mais graves. Inclusive, às vezes, a gente tem que recorrer ao auxílio dos colegas da medicina pra fazer o atendimento, né. Tem algumas pessoas que já estão se deprimindo, né. Algumas que também já vêm com um histórico de ansiedade e de depressão e que foi muito agravado nessas circunstâncias, né. Então eles estão vivendo uma situação - eles e nós - uma situação muito difícil", fala a coordenadora do curso de psicologia da Unisinos.
"Quando estou trabalhando, eu acho que eu estou bem. Eu achava que eu estava bem tranquila, que a enchente não tinha me afetado. Porque eu cheguei aqui no sábado pela manhã, quando a gente veio pra cá e a adrenalina estava muito alta. Ainda está. Mas tem alguns gatilhos que disparam que aí eu percebi que eu também sou desabrigada, né. Então a chuva é um gatilho. Quando eu saio na rua, que eu vejo muita água, é um gatilho. Quando eu passo muitas horas trabalhando, que eu não almoço, é um gatilho. Como eu sou trabalhadora e também desabrigada, eu não sei qual é a minha realidade ainda", diz a gerente da unidade básica de saúde Itamaris Dias.
Hoje, o governador federal, anunciou que está elaborando um plano para atendimento de saúde mental no Rio Grande do Sul. O psicólogo Chistian Haag Kristensen, coordenador no núcleo de estudos e pesquisa em traumas e estresse da PUC do Rio grande do Sul explica que o primeiro acolhimento que vem sendo oferecido segue um protocolo desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde.
"Nesse momento, a ajuda que a gente tá oferecendo é mais básica pra auxiliar a pessoa a processar melhor essas emoções, esses pensamentos e ajudar as pessoas a poder ter um curso mais rápido de recuperação a gente já consegue ter um pouco mais de clareza sobre aquelas pessoas que estão já se recuperando e é importante que a gente diga: isto é a maior parte das pessoas. A maioria das pessoas vai se recuperar do ponto de vista psicológico disto que aconteceu, isso é muito importante que a gente tenha clareza pra não achar que tá todo mundo adoecendo", explica a psicóloga e pesquisadora da PUCRS Chistian Haag Kristensen.
Para quem perdeu tudo e vive a incerteza do que vem pela frente, a orientação dos psicólogos é tentar focar no momento presente, em como está se sentindo agora. Ajuda também buscar apoio entre pessoas que estão na mesma situação, o que cria um senso de comunidade. E mesmo quem não foi diretamente afetado pode precisar de cuidados com a saúde mental.
A orientação do especialista são:
Estar disposto a ouvir, mas sem forçar a pessoa a falar;
não pedir que ela relembre os traumas.
Para profissionais que estão atuando na tragédia:
Não deixar de descansar, até para não adoecer;
"Um outro passo que envolve técnicas que ajudam a pessoa a reduzir emoções muito negativas; por exemplo, ansiedade, e algo muito importante ajudar a pessoa, estimular autonomia da pessoa pra ter ações no sentido de resolver essas necessidades e preocupações. E finalmente um passo fundamental dessa intervenção que é estimular o contato com o grupo social, o grupo de apoio da pessoa", explica Chistian Haag Kristensen psicóloga e pesquisadora da PUCRS.
"Quando você é ajudado e socorrido a tempo, lá na frente você pode socorrer um outro. Você sabe a maneira que você foi ajudado. Você sabe a valia que aquele tempo, aquela ajuda teve na sua vida, no seu estado mental, psicológico, sabe, físico", diz Irenildes Alvez Pinto aposentada.
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Publicada por: RBSYS