USP afirma que seguiu o procedimento adotado para toda a Universidade de São Paulo, mas não comentou sobre o tempo de duração da videochamada. Jovem matriculado com cota perde vaga na USP por não ser considerado pardo: 'Avaliação durou menos de 4 minutos', diz família
Arquivo pessoal
Um estudante de Alumínio (SP) perdeu a vaga no curso de economia na Universidade de São Paulo (USP), no campus de Piracicaba (SP), após não ser considerado pardo pela banca de heteroidentificação, responsável por julgar se o candidato é socialmente lido como negro. A família reclama da decisão, feita por uma chamada de vídeo que durou menos de quatro minutos.
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Kaio Voigtlander, de 18 anos, foi aprovado na primeira chamada pelo Provão Paulista. Ele descobriu que perdeu a vaga no dia 9 de fevereiro. No dia seguinte, recorreu da decisão e teve o retorno 17 dias depois, em 26 de fevereiro, confirmando o cancelamento de sua vaga.
O jovem é filho adotivo de Juvenal Christov que, ao g1, explicou que Kaio já havia conseguido moradia na cidade. Agora, a família busca por orientação jurídica para acionar a Justiça e tentar reverter a situação.
A USP, no entanto, afirma que seguiu o procedimento adotado pela instução, mas não comentou sobre o tempo de duração da chamada (veja o posicionamento completo abaixo).
“Como a análise é estritamente fenotípica, a banca não faz nenhum tipo de pergunta sobre a vida dos candidatos. O que conta mesmo é a cor da pele, os cabelos e a forma da boca e do nariz. Para os candidatos do Enem e do Provão Paulista, foram feitas oitivas virtuais. Isso porque muitos desses candidatos moram em lugares muito distantes e a Universidade procura, assim, garantir condições para que candidatos de outras localidades tenham a oportunidade de ingressar na USP”, informou.
Juvenal, pai do jovem, reclama que o processo é falho, uma vez que a autodeclaração do filho deveria ser incontestável. “Eles tinham que fazer uma pesquisa maior, procurar saber realmente [...] A autodeclaração é juridicamente forte”, afirma.
Kaio afirma que sempre se autodeclarou pardo e informou ao pai que, mesmo perdendo a vaga, não desistirá do sonho. “Ele está muito abatido, chateado para caramba, mas ele não desistiu. Ele continua procurando e está estudando sozinho. É uma pena, porque ele estudou para caramba e vai perder um ano por causa de alguém que fez uma avaliação desse tipo, assim, leviana”, desabafa.
“Se a avaliação fosse correta, firme, nós seríamos os primeiros a dizer ‘não, está certo’. Mas desse jeito que foi feito, é frustrante”, finaliza o pai.
O que diz a universidade?
A USP declarou que a análise das fotografias é feita através de duas bancas de cinco pessoas e é baseada somente em fatores fenotípicos: a cor da pele morena ou retinta, o nariz de base achatada e larga, os cabelos ondulados, encaracolados ou crespos e se os lábios são grossos.
Caso a foto do candidato não seja aprovada na primeira avaliação, ela é direcionada automaticamente para a outra banca. "Nenhuma banca sabe se a foto está sendo analisada pela primeira ou segunda vez, o que garante uma dupla análise cega das fotografias", afirma a USP em nota.
Ainda de acordo com a instituição, se as duas bancas não aprovarem a foto por maioria simples, o candidato é automaticamente chamado para uma oitiva presencial.
“Nas versões virtuais, a banca de heteroidentificação toma todo o cuidado para que a visualização das características fenotípicas seja feita de maneira adequada, pedindo, por exemplo, para que os candidatos mudem a posição do corpo e procurem lugares com melhor iluminação. Tudo para garantir a isonomia da oitiva”, afirmou.
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Publicada por: RBSYS