Clóvis Marcondes de Souza, de 70 anos, estava a caminho da farmácia quando foi atingido por um disparo acidental nesta terça-feira. O caso é investigado pela Polícia Judiciária Militar. Boletim de ocorrência não foi registrado, o que impossibilita investigação pela Polícia Civil. Morte de idoso por policial militar é registrada como homicídio culposo
O Tribunal de Justiça Militar manteve a prisão preventiva do policial militar que matou um idoso de 70 anos na terça-feira (7) com um disparo acidental durante perseguição a suspeitos na Zona Leste de São Paulo. A audiência de custódia foi realizada nesta quarta (8).
Ferroviário aposentado, Clóvis Marcondes de Souza estava a caminho da farmácia quando foi baleado. Ele não tinha relação nenhuma com a perseguição.
A vítima chegou a receber atendimento médico, mas não resistiu e morreu no local. Pessoas que trabalham na região e que acompanharam toda a ação contaram que o socorro não foi rápido, apesar de o posto do Corpo de Bombeiros ficar a 220 metros do local do crime. A PM diz que o socorro foi acionado imediatamente.
Os policiais militares não registraram boletim de ocorrência na delegacia, o que impossibilita a investigação da Polícia Civil. Segundo informações iniciais, um delegado que atende a região do Tatuapé teria avaliado o caso como homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Por isso, segundo interpretação da Secretaria da Segurança (SSP), a Polícia Judiciária Militar será responsável pela investigação.
Questionado, o Tribunal de Justiça Militar informou que, "sobre a natureza do homicídio, foi solicitado que novas diligências sejam feitas para determinar se foi doloso ou culposo".
Uma resolução da SSP, publicada em março de 2015, estabelece os procedimento que devem ser seguidos em casos de mortes em decorrência de intervenção policial. O documento define que o local do crime deve ser preservado para a chegada do Delegado de Polícia e, posteriormente, para a perícia.
O Centro de Operações da PM também deve relatar o caso ao centro de comunicação da Polícia Civil. "As Corregedorias da Polícia Civil e Militar deverão acompanhar as ocorrências que envolvam seus respectivos policiais, objetivando a coleta de dados e de informações visando instruir os respectivos procedimentos administrativos", afirma a resolução.
De acordo com a resolução, o procedimento a ser adotado pela corporação também não sofre alterações independentemente do caso ser homicídio culposo ou doloso.
Clóvis Marcondes de Souza morreu após ser baleado por tiro acidental de PM em SP
TV Globo/Arquivo Pessoal
Ao g1, Paulo Proença, genro da vítima, contou que ele morava na região havia sete anos e costumava caminhar todos os dias pelas ruas do bairro.
"Ele morava no Tatuapé com a esposa havia sete anos e sempre saía para caminhar no fim da tarde como rotina para a saúde. Estava a poucos metros de onde ele morava e é um percurso tranquilo, super calmo, com alguns comércios. Inadmissível a PM atirar assim. Inadmissível um policial treinado disparar durante abordagem e atingir uma pessoa. Foi ele, mas podia ter sido qualquer um, uma criança, eu. Estamos devastados, desolados", afirmou Paulo.
E completou: "Meus filhos sempre acompanhavam o avô na caminhada e podiam estar junto naquele momento. Perto de onde foi tem uma escola. Não podemos aceitar que isso se torne comum aqui, um policial que foi capacitado a usar arma atirar dessa forma. Como poder dar um tiro assim? A abordagem foi uma coisa maluca porque os rapazes na moto estavam indo levar documento no emprego".
PM mata acidentalmente idoso que não tinha relação com perseguição
Ainda conforme Paulo, Clóvis faria 71 anos em 27 de maio. Era casado e deixou dois filhos.
"Ele era um homem muito bom, honesto, incapaz de fazer mal para alguém. A dor é muito grande. Muito difícil. [Estamos] despedaçados."
"Vamos ainda nos acalmar de toda essa situação, mas a gente pretende denunciar a atitude do policial para que a morte não seja em vão. Estamos cansados de ver isso", ressaltou.
Clóvis Marcondes de Souza tinha 70 anos e morreu baleado na Zona Leste de SP
Arquivo Pessoal
Perseguição
Em entrevista à TV Globo, o capitão Felipe Neves, porta-voz da Polícia Militar, afirmou que, por volta das 16h30, uma equipe do 8º Batalhão estava em patrulhamento pela região do Tatuapé, quando, na tentativa de abordar uma motocicleta conduzida por duas pessoas, acabou ocorrendo um disparo acidental efetuado por um policial.
"O policial disse que o disparo ocorreu de forma acidental. O policial, identificado como autor do disparo, foi preso em flagrante e será encaminhado ao presídio militar Romão Gomes e vai responder pela ocorrência", disse o porta-voz.
Em nota à TV Globo, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que os suspeitos abordados não tinham habilitação para conduzir motocicleta e que, após abordagem, "foram liberados e o veículo entregue para uma pessoa devidamente habilitada".
Ao g1, a SSP afirmou que a Polícia Militar lamentava o ocorrido. Veja nota completa abaixo:
"A Polícia Militar lamenta profundamente a morte de um idoso de 70 anos, ocorrida na tarde desta terça. Agentes da PM abordaram uma motocicleta ocupada por dois suspeitos, na Rua Platina, Vila Azevedo, na região do Tatuapé, quando houve um tiro disparado por um policial. O disparo atingiu a vítima, que transitava pela calçada no momento da ação. O socorro foi acionado imediatamente, mas o homem não resistiu. O PM responsável pelo disparo foi preso em flagrante e encaminhado ao presídio militar Romão Gomes. O caso foi registrado como homicídio culposo e será investigado pela Seção de Polícia Judiciária Militar – SPJM".
Idoso morre com tiro acidental de PM na Zona Leste de SP
Abraão Cruz/TV Globo
Policial militar matou um homem de 70 anos com um disparo acidental durante perseguição
Abraão Cruz/TV Globo
Publicada por: RBSYS