Ebrahim Raisi era o segundo homem mais importante do governo iraniano, atrás apenas do líder supremo, o Aiatolá Ali Khamenei, que dá a palavra final em todos os assuntos do Estado. Morte de presidente do Irã repercute em todo o mundo
A queda de um helicóptero matou o presidente iraniano, Ebrahim Raisi.
Ebrahim Raisi era o segundo homem mais importante do governo iraniano, atrás apenas do líder supremo, o Aiatolá Ali Khamenei, que dá a palavra final em todos os assuntos do Estado. Raisi usava turbante preto, que é um símbolo para os fiéis de que a família dele era descendente do profeta Maomé.
Na década de 1980, Raisi participou de uma comissão que condenou à morte milhares de presos políticos e outros dissidentes do regime. Ele era cotado para substituir o Aiatolá Khamenei, palavra que significa "enviado de Deus".
Mas no domingo (19), o presidente voltava de helicóptero de uma viagem ao Azerbaijão. Era um dia de muita névoa. A aeronave caiu quando sobrevoava a remota região de fronteira. Foram 12 horas de buscas para achar o helicóptero, em pedaços. O Ministro das Relações Exteriores também morreu na queda. A imprensa estatal afirma que houve falha técnica. O governo segue investigando.
Os Estados Unidos – mesmo inimigos do regime no Irã - disseram que o país “reafirma o apoio ao povo iraniano e às suas lutas por direitos humanos e direitos fundamentais”. O governo de Israel não comentou publicamente. Uma autoridade se limitou a dizer à agência de notícias Reuters que o país não teve nada a ver com a queda do helicóptero.
Raisi foi eleito em 2021, em uma eleição em que mais da metade da população não compareceu às urnas. É um conselho liderado pelo Aiatolá que escolhe quem são os candidatos à presidência. Na época, esse conselho vetou os principais opositores.
O acontecimento mais simbólico do governo de Raisi foi a morte de Mahsa Ahini em 2022. Presa, acusada de não estar usando o véu corretamente, morreu horas sob custódia da polícia. A morte suspeita provocou uma onda de protestos - violentamente reprimidos; 22 mil pessoas acabaram presas e mais de 500 morreram.
Raisi também foi peça-chave no conflito com Israel. Em 1ºde abril, sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana morreram em um bombardeio ao consulado iraniano na Síria. O Irã acusou e depois atacou Israel com centenas de drones e mísseis. Dias depois, uma base aérea iraniana foi alvo de um ataque suspeito.
Com a morte do presidente, assume o vice, Mohammed Mokhber. Mas apenas de forma provisória. O governo interino já anunciou novas eleições para 28 de junho.
Independentemente de quem for eleito, permanece a dúvida sobre quem deve suceder o Aiatolá Ali Khamenei. Ele tem 85 anos de idade e saúde frágil. Agora, quem se torna um dos nomes mais forte à sucessão do líder supremo é Mojtaba Khamenei, filho do Aiatolá.
Só que vai ficar difícil explicar essa história para os iranianos, porque quando o grupo que está no poder agora fez a Revolução Islâmica no fim dos anos 1970, foi para tirar do poder uma monarquia. Rei em persa se diz “xá". O fim da era dos "xás" acabava também com a passagem hereditária do poder.
A ativista iraniana Masih Alinejad disse ao Jornal Nacional que que eles só destituíram o regime dos "xás" porque eram contra a monarquia. E que, agora, o único candidato a líder supremo é seu próprio filho. "Qual a diferença?", pergunta. Ela espera que o mundo apoie a população iraniana descontente com o regime.
Repercussão
No Iraque, velas em homenagem a Ebrahim Raisi. No Paquistão e no Líbano, bandeiras a meio-mastro. Países aliados que decretaram dias de luto pela morte do presidente de outro país. A Síria, do ditador Bashar Al Assad, fez o mesmo. A Turquia também.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan expressou condolências pela morte de Ebrahim Raisi - a quem definiu como um "colega e irmão valioso". O governo de Erdogan ajudou nas buscas pelos destroços do helicóptero que caiu com o presidente iraniano - assim como o governo do presidente da China, Xi Jinping.
Em Pequim, um porta-voz disse que “o povo chinês também perdeu um bom amigo”. A China e o Irã são os países que mais executam prisioneiros em todo o mundo.
Na Rússia, o governo se disse pronto pra ajudar na investigação do acidente. Vladimir Putin afirmou que Ebrahim Raisi era “um verdadeiro amigo da Rússia”. Uma “pessoa maravilhosa”. O Irã fornece os drones que a Rússia usa na guerra da Ucrânia. Cidadãos russos colocaram flores na embaixada iraniana em Moscou.
O presidente da autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, chamou os iranianos de povo irmão e expressou solidariedade. As manifestações vieram de grupos armados apoiados pelo Irã, como os terroristas do Hamas e o libanês Hezbollah, que lamentaram a morte.
O secretário-geral expressou tristeza. Em uma sessão do Conselho de Segurança, em Nova York, os embaixadores fizeram um minuto de silêncio.
Na América Latina, governos de vários países manifestaram condolências - entre eles, Venezuela, México, Brasil, Chile e Uruguai.
Ao longo dessa segunda-feira (20), a morte de Ebrahim Raisi foi ganhando uma grande repercussão internacional. Líderes da União Europeia e da aliança militar do ocidente, a Otan, prestaram solidariedade ao Irã. Mas no Reino Unido, o secretário de segurança deixou a diplomacia de lado e, de maneira muito clara, disse que não vai lamentar a morte do presidente iraniano.
Em uma rede social, o secretário disse: “O regime do presidente Raisi assassinou milhares de pessoas e tem como alvo gente aqui na Grã-Bretanha e em toda a Europa. Eu não vou ficar de luto por ele".
Alguns iranianos, em Londres, comemoraram a morte do presidente em frente à embaixada do Irã. Cenas parecidas se repetiram em Berlim, na Alemanha. Integrantes da oposição iraniana, perseguidos e exilados, participaram dos atos.
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Publicada por: RBSYS