Negociação para delação só ganhou força após delação de Élcio de Queiroz, em 2023. Investigadores querem “transcender” caso Marielle: apontam que, no futuro, Lessa poderá ajudar a desvendar mais de 20 anos de crimes no Rio. Acusado de matar Marielle e Anderson confessa ser dono de 117 fuzis
Reprodução/JN
A Polícia Federal quer usar a delação do ex-PM Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos contra Marielle Franco e Anderson Gomes, para avançar nas investigações que desvendem outros crimes no Rio de Janeiro – do jogo do bicho à milícia.
Investigadores e fontes no Supremo Tribunal Federal (STF) tratam Lessa como um arquivo vivo e esperam que, além de desfecho no caso, a delação do miliciano preso possa levar a desvendar o que chamam de “ecossistema” do crime no estado.
Essa, inclusive, foi a primeira proposta de investigadores a Lessa em meados de 2023, após Élcio Queiroz – que dirigia o carro em que Lessa estava ao disparar contra Marielle – decidir fazer delação.
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Conforme o g1 revelou, pessoas próximas da investigação apontam que Lessa não queria colaborar, mas mudou de ideia depois que Queiroz o entregou como o executor dos assassinatos.
A proposta inicial era para que Lessa contasse “20 anos de crime de Rio de Janeiro”. Em troca, ele teria benefícios concedidos em delação premiada, e foi cogitado até oferecer uma nova identidade e a possibilidade de viver em outro país, por exemplo.
Naquele momento, o ex-PM não topou e a polícia decidiu fazer o trabalho em dois tempos, para evitar que a negociação emperrasse.
Foi decidido, então, restringir a delação ao caso Marielle – para desvendar quem são os mandantes do crime – e tentar avançar em outras frentes mais tarde. Na visão de fontes ligadas à investigação, Lessa é “uma mina de informação’’ e pode ajudar a desmontar a atuação de milicianos no Rio de Janeiro.
Um fator de preocupação e urgência é que Lessa possa avançar em coisas que sabe antes das eleições de 2024, já que a PF se preocupa em “desmilicianizar” o pleito em um momento decisivo da política no país.
Um ministro do STF ouvido pelo blog afirma que o nível de envolvimento da milícia e da política surpreende até os mais experientes investigadores.
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Medo de ficar preso até morrer
O ponto-chave para a delação de Ronnie Lessa teria começado em um banho de sol de Élcio Queiroz. Segundo uma fonte ligada à investigação, um policial da inteligência penal abordou Élcio e quis saber como ele estava e ouviu de suas preocupações. Ali, segundo investigadores, teria sido o pontapé inicial para que esse investigado topasse a delação.
Com a delação de Élcio, Ronnie Lessa começou a se questionar qual a vantagem de ficar em silêncio. “Em certo momento ele pensa: “o outro (Élcio) rico e eu na cadeia até morrer. Trincou ali com Elcio”, diz uma fonte que participou das negociações.
Ronnie Lessa é Élcio de Queiroz
Reprodução/TV Globo
Outro fator a motivar Lessa a falar foi a prisão do amigo e ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, dono do carro usado para esconder as armas que estavam em um apartamento do ex-PM. Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, Suel ajudou a jogar no mar as armas usadas na morte de Marielle
Reações da milícia
Desde que a Polícia Federal passou a apertar o cerco contra a criminalidade no Rio de Janeiro, milicianos passaram a uma guerra particular em busca de domínio de territórios e poder.
Em 2023, o estado teve a primeira alta em 5 anos no número de mortes violentas, e voltou a ficar acima de São Paulo, que tem quase o triplo da população, como mostrou o Monitor da Violência.
Segundo uma fonte ouvida pelo blog ainda, a avaliação de que existe um movimento de ''queima de arquivo'' entre criminosos.
Publicada por: RBSYS